No universo de Fusões e Aquisições (M&A), as motivações que levam empresas a se unirem ou serem adquiridas são vastas e complexas, abrangendo desde sinergias operacionais até interesses estratégicos. Porém, uma questão crucial intriga muitos profissionais: o que realmente define o valor final de uma empresa? É um cálculo puramente racional ou a emoção desempenha um papel significativo?
Motivações racionais em M&A
Estudos clássicos, como os de Scherer e Ross (1990), identificam diversas razões para M&A, como:
- Busca por sinergias: Combinação que gera valor superior à soma das partes.
- Aumento do poder de mercado: Redução da concorrência.
- Substituição de administrações ineficientes: Melhorando a gestão e o desempenho organizacional.
Firth (1980) ainda destaca teorias que norteiam as decisões empresariais em M&A:
- Teoria Neoclássica: Foco na maximização do lucro e riqueza dos acionistas.
- Teoria da Maximização da Utilidade Gerencial: Onde administradores priorizam segurança no emprego e poder, muitas vezes em detrimento dos acionistas.
Manne (1965) introduziu a Teoria do Mercado de Controle Corporativo, indicando que aquisições hostis podem melhorar a eficiência ao substituir administrações ineficientes. Já Marris (1963) e Jensen (1986) destacaram como gestores podem priorizar o crescimento da empresa ou interesses pessoais acima da maximização dos lucros.
Fatores como incentivos tributários, economia de escala, poder de monopólio, diversificação de riscos e sucessão também desempenham papéis relevantes.
A Surpreendente Influência da Emoção
A racionalidade parece ser o caminho ideal para garantir decisões fundamentadas. Entretanto, no mercado de M&A, a realidade pode ser diferente. Uma experiência pessoal ilustra bem essa questão: um valuation detalhado de uma empresa avaliou seu valor em R$ 1,8 bilhões, mas a negociação foi fechada em impressionantes R$ 3,5 bilhões. Esse desvio foi atribuído não a análises técnicas, mas a estratégias emocionais e narrativas convincentes.
Embora muitos possam considerar isso “irracional”, esse fenômeno é uma demonstração do poder da percepção e da emoção no processo decisório. Narrativas bem construídas, senso de exclusividade e uma visão otimista do futuro podem impactar diretamente o preço final de uma negociação.
Dados e Reflexões sobre M&A
Um estudo abrangente analisou mais de 2.500 acordos de M&A, com valores superiores a US$ 100 milhões, entre 1995 e 2018. Eis alguns insights:
- Prêmios pagos: Em média, os prêmios chegaram a 30%.
- Desempenho dos adquirentes: 60% das transações tiveram reações negativas do mercado, com retornos médios de -1,6% no anúncio e -2,1% após um ano.
- Melhoria ao longo do tempo: Apesar de uma leve redução nas reações negativas, o desempenho geral continua desafiador.
Esses dados levantam uma questão fundamental: devemos permitir que emoções influenciem decisões de tamanha magnitude?
Conclusão
No mercado de M&A, é claro que tanto a razão quanto a emoção têm papéis importantes. A análise financeira sólida deve sempre ser a base para qualquer negociação. Contudo, ignorar os aspectos emocionais pode ser um erro estratégico. Entender as percepções, criar narrativas convincentes e reconhecer os vieses comportamentais são habilidades essenciais para alcançar o sucesso.
Referências:
FIRTH, M. Takeovers shareholders returns, and the theory of the firm. The Quarterly Review of Economics and Finance, 1980.
MANNE, H. G. Mergers and the market for corporate control. Journal of Political Economy, 1965.
MARRIS, R. A model of the managerial enterprise. Quarterly Journal of Economics, 1963.
SCHERER, F. M.; ROSS, D. Industrial market structure and economic performance. Boston: Houghton Mifflin Company, 1990.
SIROWER, Mark L.; WEIRENS, Jeffery M. A solução da sinergia: como as empresas vencem o jogo das fusões e aquisições. Rio de Janeiro: Alta Books, 2023.