Os ciclos econômicos são caracterizados por fases assimétricas e imprevisíveis que refletem as atividades econômicas de um país ao longo de um período específico (Burns & Mitchell, 1946; Cavalca et al., 2017). De acordo com Schumpeter (1939) e Burns e Mitchell (1946), esses ciclos incluem quatro fases distintas: expansão, recessão, depressão e recuperação. Essas fases representam flutuações econômicas e apresentam pontos de inflexão chamados de picos e vales (Schumpeter, 1939). A variação do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação é um dos métodos mais utilizados para analisar esses ciclos econômicos (Burns & Mitchell, 1946; Cavalca et al., 2017).
Como os Ciclos Econômicos afetam as empresas?
Dado que a economia não apresenta um comportamento uniforme ao longo do tempo, é crucial que as empresas compreendam as particularidades do ambiente macroeconômico em que operam, pois isso impacta diretamente seu endividamento e desempenho financeiro (Bandyopadhyay & Barua, 2016). A estrutura de capital refere-se à forma como as empresas utilizam recursos de terceiros, tanto a curto quanto a longo prazo, além de seu próprio capital (Assaf Neto, 2008; Kudlawicz et al., 2015; Sant’Ana & Silva, 2015). Escolher a forma de financiamento correta é essencial para garantir a continuidade e crescimento sustentável do negócio.
O Papel da Estrutura de Capital no Valuation
A estrutura de capital de uma organização reflete a proporção de capital próprio em relação ao capital de terceiros utilizado para financiar suas operações. O custo desse capital, representado pelas taxas de juros, sofre variações temporais, sendo influenciado por fatores como risco, volatilidade e condições macroeconômicas. Nesse contexto, os ciclos econômicos exercem grande influência no valuation das empresas.
Taxas de Juros e Valuation Empresarial
Um dos instrumentos monetários utilizados para controle da inflação é a taxa de juros, que afeta diretamente os custos de captação de recursos e a taxa livre de risco. Durante períodos de expansão econômica, o governo tende a elevar a taxa de juros para conter a inflação. No início de uma recessão, essas taxas permanecem elevadas, resultando em uma taxa de desconto mais alta para as empresas. Isso faz com que muitas empresas pareçam “subvalorizadas”, pois o retorno exigido pelos investidores aumenta devido às melhores alternativas de investimento de menor risco.
Além disso, em períodos de recessão, o acesso a capital barato se torna mais difícil, impactando a capacidade das empresas de realizar investimentos estratégicos e limitando seu potencial de crescimento.
Por outro lado, quando a economia necessita de estímulo, o governo tende a reduzir as taxas de juros. Essa redução valoriza as empresas, pois elas passam a ter acesso a capital mais barato, facilitando novos investimentos e impulsionando seu crescimento. Esse crescimento eleva os lucros, gera empregos e estimula a economia, reiniciando o ciclo econômico.
Conclusão
Os ciclos econômicos afetam diretamente o valuation das empresas, influenciando sua estrutura de capital e custo de financiamento. Para que uma organização possa crescer de forma sustentável e atrair investidores, é fundamental considerar os impactos macroeconômicos ao estruturar suas estratégias financeiras.
Empresas que compreendem e antecipam os movimentos do ciclo econômico conseguem ajustar suas decisões de investimento e financiamento, maximizando seu valor de mercado e garantindo um crescimento sólido a longo prazo.
Referências
Assaf Neto, A. (2008). Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas.
Burns, A. F., & Mitchell, W. C. (1946). Measuring business cycles. New York: National Bureau of Economic Research Inc.
Bandyopadhyay, A., & Barua, N. M. (2016). Factors determining capital structure and corporate performance in India: Studying the business cycle effects. The Quarterly Review Of Economics And Finance, 61, 160-172.
Cavalca, R. B., Klotzle, M. C., Silva, P. V. J. da G., & Pinto, A. C. F. (2017). A relação entre ciclos econômicos com o desempenho das empresas no mercado brasileiro. Revista Brasileira de Economia de Empresas, 17(1), 21-37.
Krivogorsky, V., & Burton, F. G. (2012). Dominant owners and performance of continental European firms. Journal of International Accounting Research, 11(1), 191-221.
Kudlawicz, C., Senff, C. O., & Bach, T. M. (2015). O desempenho econômico e a estrutura de capital: Empresas brasileiras à luz da fronteira de eficiência. GCG Georgetown University, 9(3), 40-52.
Sant’ana, C. F., & Silva, T. P. (2015). Fatores determinantes da estrutura de capital de empresas brasileiras de tecnologia. Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação, 12(3), 687-708.
Schumpeter, J. A. (1939). Business cycles: A theoretical, historical and statistical analysis of the capitalist process. New York: McGraw-Hill Inc.
Venturini, L. D. B.; Machado, V. N.; Silva, C. E. S.; Souza, R. B. L. de. Influência dos ciclos econômicos na relação entre desempenho empresarial e estrutura de capital das companhias de capital aberto do Brasil. Revista Universo Contábil, v. 17, n. 4, p. 25-45, out./dez. 2021.